O retorno
O primeiro contingente da Força Expedicionária Brasileira retornou ao Brasil em 18 de julho de 1945, a bordo do navio americano General Meigs.

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A chegada dos soldados foi recebida com festa e multidões, primeiro no porto do Rio de Janeiro, mas depois em diversos locais pelo Brasil. No entanto, apesar da euforia inicial, a FEB já tinha sido desmontada pelo governo Vargas quando ainda estava na Itália, de forma a evitar a exploração política da volta dos soldados. Após os desfiles, os soldados não podiam andar uniformizados pelas ruas ou usar medalhas e condecorações.
Enéas Sá de Araújo descreve o seu retorno: “Chegamos ao porto. Formamos e fomos para o desfile. O povo vinha para cima de nós e acabamos em coluna por um. Encontrei um soldado da minha companhia que havia vindo antes. Saí de lá com ele; fomos até um bar e tomamos uma cerveja. Depois desbordei e fui para a estação. Estava um tumulto porque o povo tomou conta. Fomos para o Capistrano. Lá nos serviram arroz, jabá e mais alguma coisa. Os soldados viraram tudo aquilo. Não era possível! Estávamos comendo bem, no navio, e serviram uma porqueira daquelas para a gente comer. Na saída do navio haviam dado uma garrafinha de Coca-Cola e um sanduíche e, de noite, apareceu uma janta daquelas… Eu não tive problemas. Convidei uns colegas e fomos para Madureira, onde conhecia o dono de um restaurante; antes da guerra, eu comi lá por três meses. Quando chegamos, o dono veio me abraçar. Eu disse a ele que nós iríamos comer, mas iríamos ficar devendo, porque ninguém tinha dinheiro; havíamos devolvido as liras e ainda não tínhamos cruzeiros. O dono disse que não tinha problema, que seria por conta dele. Foi a maior festa, pois outras pessoas mandavam cervejas para a nossa mesa, em nossa homenagem. Não deu nem para comer direito. Logo estava cheio de gente à nossa volta, querendo saber novidades sobre a guerra. Ficamos até depois da meia noite no bar, comendo, tomando cerveja e contando histórias”.
A maioria dos soldados que participaram da guerra, por não serem militares de carreira, com a desmobilização da Força Expedicionária Brasileira ainda na Itália, apesar de terem voltado fardados, chegaram ao Brasil praticamente na condição de civis. Na época, o Exército não dispunha de uma estrutura que permitisse incorporar às suas fileiras todos os soldados que voltaram da guerra. Muitos se sentiram abandonados. A separação foi traumática, pois rompeu amizades forjadas ao longo de vários meses. Mário Machado dos Santos resume esse sentimento: “Apesar da pompa com que os pracinhas foram recebidos no retorno ao Brasil, as marcas que a guerra deixou em todos não foram levadas em conta quando os dispensaram”.
Pacífico Pozzobon corrobora: “Muitos pracinhas não conseguiram superar os traumas que trouxeram da guerra e se entregaram à bebida, sem ter a quem recorrer… A pensão que passaram a nos pagar foi muito justa, mas, infelizmente, muitos veteranos morreram sem ter recebido o justo reconhecimento da Pátria”. Divaldo Medrado complementa: “Lamento que muitos companheiros tenham ido embora sem receberem o reconhecimento que nós recebemos, em 1988…”, concluindo que na volta da guerra, o governo “não se interessou por nós; não avaliou o verdadeiro valor do soldado”.
Nas décadas seguintes, incluindo o primeiro governo pós-era Vargas, a oficialidade expedicionária logo compreendeu que “a FEB não teria vez”, como de fato não teve. Desmobilizada e com seus elementos tendo sido transferidos para regiões longínquas do país, à FEB restou apenas o sentido de sua luta, restou apenas a sua lenda.

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A opinião entre os veteranos da FEB é praticamente unânime e pode se sintetizada nos depoimentos a seguir. Para o soldado Eugênio Lombardo a guerra representou mais uma missão a ser cumprida: “Defendemos o Brasil e ajudamos a FEB a cumprir bem a sua missão, no sentido de acabar com a guerra”. “Nós saímos desacreditados do Brasil, mas hoje posso dizer que fomos mais do que bons soldados; nós éramos os melhores soldados. Cumprimos muito bem a nossa missão”, conclui o sargento Rubens Leite de Andrade. O cabo Miled Cury Andere é conciso: “A minha missão foi bem cumprida porque eu fiz tudo o que a minha Pátria esperava de mim. Eu não decepcionei minha Pátria!”.
(Depoimentos extraídos de Vozes da Guerra).