Antônio Alvares da Silva (Frei Orlando)
20613 – ANTÔNIO ALVARES DA SILVA
FILIAÇÃO
Itagyba Alvares da Silva e Jovita Aurélia da Silva.
ANTES DA GUERRA
Caçula em uma família de nove irmãos, e órfão de pai e mãe biológicos, com apenas um ano de idade foi adotado por Emirena e Sebastião de Almeida Pinho.
Em 6 Jan 1925, ingressou no Colégio Seráfico de Divinópolis, MG, no qual permaneceu até 1931.
Em 17 Fev 1931, ingressou na Ordem Franciscana, em Hoogkrutz, na Holanda.
Em Ago 1934, foi transferido para o Convento de Alverne de Wyclen, no qual cursara Teologia Fundamental e emitiu votos solenes no dia 8 Set 1935.
Em 28 Set 1935, retornou ao seminário de Divinópolis, a fim de concluir os estudos.
Em 24 Out 1937, foi ordenado frade no Seminário dos Franciscanos e Santuário de Santo Antônio, em Divinópolis, adotando o nome “Frei Orlando”.
Em 1º Nov 1937, celebrou a primeira missa na Igreja São Francisco das Chagas, na cidade de Carlos Prates, MG.
Designado para São João del Rei, MG, lecionou no Colégio Santo Antônio, da Ordem Franciscana.
Dentre as suas obras sociais destaca-se a “Sopa dos Pobres”. Em busca de apoio para a ação social, Frei Orlando procurou o comandante do 11º Regimento de Infantaria (RI), obtendo forte engajamento dos integrantes da unidade militar.
Durante o treinamento do 11º RI, Frei Orlando frequentava a Unidade, prestando assistência à tropa. Ao receber o convite do comandante do regimento, aceitou-o e iniciou a preparação física para a missão.
Em 20 Jul 1944, já no Morro do Capistrano, no Rio de Janeiro, o comando do 11º RI, à frente da tropa, fez a apresentação dos capelães recém-incorporados, dentre os quais estava o Frei Orlando, à tropa. Em 21 de julho celebrou missa pela primeira vez, na investidura de suas funções.
Embarcou para a Itália em 22 Set 1944, chegando a Nápoles em 5 de outubro.
DURANTE A GUERRA
Em 22 de outubro, na cidade de Pisa, Frei Orlando rezou sua primeira missa na Itália, a qual foi acompanhada por cerca de quatro mil soldados que encerraram a cerimônia, em coro, cantando o Hino Nacional.
Nos últimos dias de novembro, após o insucesso do primeiro e do segundo ataques da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária ao Monte Castelo, o Regimento Tiradentes foi retirado apressadamente da situação de treinamento e enviado para a frente de combate, em substituição ao I Batalhão de Infantaria/1º Regimento de Infantaria. O II Batalhão, no qual se encontrava Frei Orlando, foi o segundo a se deslocar para os Apeninos, chegando à localidade de Silla, onde a capelania ocupou uma velha casa no sopé da colina. Iniciava-se o período da ‘Defensiva do Inverno’.
“Frei Orlando fazia questão absoluta de estar nas primeiras linhas. Não se acomodava com as incertezas da retaguarda, em uma posição meramente passiva quando, dizia ele, nossos companheiros tombavam sem assistência espiritual. Todo encapotado, galochões contra a neve, capacete enterrado na cabeça, saía ele pelos campos, deitando-se aqui e ali, para ocultar-se das vistas inimigas. Fazia questão de ver de perto as nossas posições avançadas e o estado moral dos soldados, animando-os com o seu idealismo, sempre posto à prova”. Gentil Palhares, em “Frei Orlando: o capelão que não voltou” (*), p. 156.
Em uma das folgas para repouso concedidas pelo V Exército, Frei Orlando e o amigo capitão Rafael Rodarte optaram por passar quatro dias de repouso em Roma. Foram visitar o Vaticano. O Papa Pio XII, que fez concessão especial ao Frei Orlando, autorizando-o a celebrar missa na Catedral de São Pedro.
Segundo o Cap Rodarte, ao deixar a Basílica, Frei Orlando lhe dissera: ‘Meu caro Rodarte, penso que não voltarei ao Brasil, e se tal acontecer, quero pedir-lhe para que seja enterrado com o hábito franciscano e com o capuz na cabeça. Desejo, ainda, que meu altar portátil, a coleção de vida dos Papas, o meu cachimbo e a minha gaita sejam entregues aos franciscanos de São João Del Rei.’” (*), p. 170.
Após o malfadado ataque de 12 Dez 1944 ao Monte Castelo, Frei Orlando prestou “toda a assistência de sua religião aos nossos companheiros, vítimas do cumprimento do dever. Não se punha à retaguarda, nem se conformava em ser mero espectador de um duelo. ‘… Não posso permanecer distante dos que caem varados pelas balas, gritando pelo nome de seus pais queridos!’. Ia assim procedendo, cumprindo rigorosamente os seus deveres para com Deus e para com a Pátria”. (*), p. 170.
Nesse ritmo seguiu durante a defensiva de inverno. Para que estivesse mais protegido, foi deslocado para o Posto de Saúde Avançado, a fim de atender aos feridos que chegavam do campo de batalha. Vivia sempre bem disposto, animado e animando a todos.
Certa vez, os oficiais convidaram-no para um passeio em Pisa para extravasar, pensando que ele não iria. Iriam fardados. Surpreendendo a todos, o convidado saiu da barraca trajando o hábito franciscano. “E todos, a um só tempo, como se em desapontamento e em protesto: ‘Ah! Assim não! Tem que ser de farda’! Foi quando o ministro da Igreja vergastou, severo e grave, em meio a discreto sorriso: ‘Saibam os senhores, meus patrícios, que onde não pode entrar este hábito, também não pode e não deve entrar a farda do nosso Exército”. (*), p. 180.
A morte de Frei Orlando
Em 20 de fevereiro de 1945, o “capelão ajustou seu equipamento, apanhou o estojo de hóstias e saiu morro acima, galgando as estradas… saiu vingando as elevações no sopé do Castelo. Subindo aqui, descendo ali, ocultando-se, ora às vistas inimigas, ora dos tiros de artilharia, marchava resoluto, a fim de levar consolo e conforto espirituais aos que morriam na operação do ataque desfechado. A meio caminho, tenta galgar as posições da 6ª Companhia rumo a Docce… Quando se encontrava a 300m, aproximadamente, de Bombiana, passa por ele um jipe. Inteirado da direção da viatura, nela tomou lugar, tendo por companheiros o capitão Francisco Ruas Santos, o cabo Gilberto Torres, motorista, uma praça do II Batalhão do nosso Regimento e um sargento italiano, dos postos à disposição da tropa brasileira, para os serviços de transporte em montanhas. 196 Frei Orlando: o capelão que não voltou O coronel Ruas, escritor militar, assim descreve, em documento valioso que nos enviou, a continuação da viagem, até o desfecho trágico e imprevisto: ‘(…) Frei Orlando, em caminho, depois de dizer o que fizera pela manhã, e o que ainda pretendia fazer, falava de uma irradiação feita pelos holandeses livres, para a parte ocupada do seu País. A uma observação qualquer, ainda soltou uma de suas costumeiras gargalhadas. O jipe marchava lentamente, subindo e descendo as elevações, quando, de repente, estaca imobilizado por uma pedra. Prendia esta o eixo dianteiro. Os passageiros conseguem retirar a viatura que é posta a alguns metros além da pedra fatídica’. E continua o coronel Francisco Ruas Santos: ‘Tomo a manícula do jipe e me esforço para removê-la. O sargento italiano, no intuito de ajudar-me, recurva-se junto à pedra e também tenta retirá-la a violentas coronhadas de sua carabina. Esta dispara, e Frei Orlando, que se achava parado a uns 3m, é atingido pelo projétil. Solta um grito, leva a mão ao peito, dá alguns passos à frente, tirando ao mesmo tempo do bolso do casaco o seu terço e balbuciando, às pressas, uma Ave-Maria. Corro para ele e o faço deitar-se à margem do caminho. A oração, apenas começada, é abafada pelo ofegar da agonia. Tudo isso, desde o fatal disparo, dura dez segundos’”. (*), p. 195 e 196.
O corpo de Frei Orlando foi enterrado no cemitério de Pistoia, em 21 Fev 1945, dia em que a FEB conquistou o Monte Castelo.
APÓS A GUERRA
“DECRETO Nº 20.680, DE 28 DE FEVEREIRO DE 1946 (D.O.U. 02/03/1946).
Institui patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército o Capelão Antônio Alvares da Silva.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 74, letra a, da Constituição e considerando que o Capelão Militar, Capitão Antônio Alvares da Silva, Frei Orlando O.F.M., tombado na linha de frente, em Bombiana, Itália, a 20 de fevereiro de 1945, prestou inestimáveis serviços à Força Expedicionária Brasileira, nas fileiras do Regimento Tiradentes, onde a sua memória é justamente venerada; considerando haver êle demonstrado possuir peregrinas virtudes morais cívicas, que o recomendam, à posteridade, como modêlo do verdadeiro sacerdote capelão militar; resolve instituí-lo patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exercício Brasileiro, criado em caráter permanente, por Decreto-lei nº 8.921, de 28 de janeiro de 1946.
Rio de Janeiro, em 28 de fevereiro de 1946; 125º da Independência e 58º da República.
Eurico G. Dutra
P. Góis Monteiro”
MEDALHAS E CONDECORAÇÕES
Medalha de Campanha (pós-morte); e Medalha Sangue do Brasil (pós-morte).
FONTES
“Frei Orlando: o capelão que não voltou”, de Gentil Palhares – Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2013; “Frei Orlando: patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército”, de Klinger Cadete Cunha – Brasília: EGGCF/Gráfica do Exército, 2013; https://www.eb.mil.br/patronos/sarex; e https://saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/1070.
CRÉDITOS
Museu Virtual da FEB / Fröhlich, S.F.