Em combate
Na Itália, quatro fases marcaram a atuação da FEB: 1ª fase – operações no vale do Rio Serchio; 2ª fase – operações no vale do Rio Reno; 3ª fase – operações no vale do Rio Panaro; e 4ª fase – operações de perseguição no vale do Rio Pó.
A partir do dia 13 de setembro de 1944, o Destacamento da FEB, comandado pelo general Zenóbio da Costa, ficou subordinado ao IV Corpo de Exército americano. Assim, estavam em condições de iniciar as operações militares, o que ocorreu dois dias depois, quando as tropas brasileiras entraram na linha de frente, substituindo elementos norte-americanos pertencentes à “Task Force 45” e à 1ª Divisão Blindada. No dia seguinte, o Destacamento da FEB iniciou seu movimento ofensivo, conquistando, na mesma jornada, a cidade de Massarosa, a primeira das operações no vale do Serchio. Em 18 de setembro, a FEB conquistou Camaiore. No dia 26 do mesmo mês conquistou Monte Prano. Até o final de outubro, diversas vilas e cidades – dentre as quais Fornaci, Barga, Gallicano, Sommocolonia, Trassilico e San Quirico – foram libertadas do jugo alemão.

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Nessa fase, não houve confrontos mais sérios com os alemães. Enéas Sá de Araújo diz: “Passamos por várias cidadezinhas sem encontrar os alemães. Fazíamos patrulhas, mas sempre nos informavam que os alemães já haviam passado por lá”. Samuel Silva relata como foi a entrada da sua companhia em Barga: “Entramos na cidade, coluna por um, reparo [da metralhadora] na frente. O povo saía à rua, olhava, via que não éramos alemães. Eles batiam palmas e diziam: Liberatori! Liberatori! Pôxa! Liberatori… Nós estávamos libertando a cidade deles. Isso encheu o nosso peito. Tivemos contato com a população; as famílias, geralmente desfalcadas, pois os homens estavam no combate”. (Adaptado de Vozes da Guerra, p. ___).
A partir de 1º de novembro de 1944, a 1ª DIE já estava completa, assumindo, em 10 de novembro, as posições no vale do rio Reno. A missão da FEB era expulsar as tropas alemãs dos Apeninos, que impediam o avanço dos aliados rumo a Bologna. Iniciava-se, assim, a ação mais longa da FEB, quando foi incumbida de tomar o complexo de elevações, com destaque para Monte Castelo, e outras posições montanhosas em seus arredores, no espaço de alguns dias, os quais foram conquistados somente em 21 de fevereiro de 1945.
Nesse período é importante destacar que, com as restrições impostas pelo rigoroso inverno, as patrulhas em busca de informações sobre o inimigo não cessaram. Damos destaque às ações em Affrico, Torre de Nerone, Bombiana, Granaglione, Boscacio, Silla, Porreta Terme, Precaria, Santa Maria Villiana entre outras.
O cabo José Cândido da Silva teve o batismo de fogo em Monte Castelo. “O combate de 12 de dezembro de 1944, foi feroz; foi o mais terrível dos ataques…”. Os alemães não davam trégua. Protegidos em suas casamatas, atrás de linhas de minas antipessoal. Para ele, a dor de perder amigos em combate é incurável e latente. “Ver um pelotão sendo esfacelado é terrível. Foi a maior tristeza que vivi. Enquanto eu viver não vou esquecer daquilo. Foi de cortar o coração… A lembrança daquele dia permanece viva; ela está gravada para sempre no coração de quem esteve lá. Quem fez parte daquele combate e continua vivo, há de se lembrar dele”.
Cândido continua: “Em 21 de fevereiro de 1945 aconteceu uma das nossas maiores vitórias. Dessas que o nosso Exército pode se orgulhar e precisa comemorar. O Regimento Sampaio foi designado para tomar parte do ataque. Só quem estava lá pôde testemunhar a valentia do soldado brasileiro e a coragem que Deus nos deu para enfrentar aquilo, e eu estava lá. Fui com um tampão num olho, pois, dias antes, na explosão de uma granada, fui ferido no supercílio. O capitão disse que eu não precisava ir com a companhia, que me dispensaria. Mas eu insisti; queria ir, e fui! Naquele dia, o medo era grande, mas parece que Deus nos deu ainda mais coragem e uma disposição ainda maior”.
Depois da tomada de Monte Castelo vieram a conquista de La Serra e Cota 958, Marano, e Castelnuovo.
A partir de 14 de abril a FEB iniciou o ataque a Montese, que, nas palavras do general Mascarenhas de Moraes, foi a mais sangrenta das batalhas da FEB. Em quatro dias de combate foram mais de 460 baixas, entre mortos e feridos.

O sargento Ary Roberto de Abreu diz que chegar a Montese foi complicado, pois, além de enfrentarem a artilharia alemã, tinham de encarar um terreno totalmente minado. “Entramos em Montese e fomos atingir os montes Serreto e Paravento [ficam atrás do povoado]. Eu estava na Companhia de Petrechos Pesados, mas, na véspera do ataque a Montese fui transferido para a 7ª Companhia. Do meu pessoal, dois morreram e outros dois ficaram feridos. Fui ferido pelas 22 horas do dia 14 de abril…”.
Ary relata o maior drama na guerra. “O meu soldado esclarecedor, Alécio Venturi, de Rodeio-SC, foi atingido por um enorme estilhaço, nas costelas. Ele me dizia: Sargento! Pelo amor de Deus. Cuide da minha da minha mãe; eu sou órfão de pai. Ele virava de um lado para o outro e repetia: Sargento! Cuide da minha mãe. Eu dizia para ele: Alécio, você não vai morrer não, rapaz. Fique firme aí.”. … “Quando eu vi que o meu soldado já tinha dificuldade de falar, larguei todo o meu equipamento e desci o morro, só com o flash light … Os padioleiros estavam ensanguentados como entregador de carne, em açougue. Eu disse a eles: Sei que vocês estão cansados, mas tem dois soldados meus agonizando. Eles precisam ser retirados de lá. Fomos até lá… A evacuação foi difícil, não porque os padioleiros fossem omissos, mas porque eles não tinham tempo para acudirem todo mundo; eram muitos feridos”.
Na hora de carregarem o soldado Alécio, Ary soube que não poderiam colocar mais de dois feridos no jipe. Como já havia outro, disse: “Eu vou pôr este soldado aqui e eu vou junto com ele. Quando chegamos ao segundo posto de saúde, num campo aberto, tinha um capelão militar –Frei Alfredo –, que se abaixou ao lado da padiola e fez uma oração no ouvido do Alécio. Botaram o Alécio na ambulância e disseram que não podiam ir mais de quatro. Eu vou aí, deitado no chão! … Chegamos ao hospital de Pistoia. Aos feridos mais graves eles davam destino mais rápido. O Alécio já não falava mais; haviam aplicado soro nele. Ele se virou para o meu lado, e se contraiu. O enfermeiro falou para ele não fazer assim, pois a agulha poderia sair da veia”. Ary estava entretido, resolvendo outro problema. Quando percebeu, haviam levado a padiola com o corpo para fora da enfermaria: “Ele estava morto! Isso acabou comigo”. (Depoimentos extraídos de “Vozes da Guerra”, e adaptados pelo autor).
Após a conquista de Montese, a FEB passou a operar no vale do rio Panaro, sendo as últimas ações nos dias 26 e 27 de abril, em Collecchio, e no dia 28 em Fornovo di Taro. Nessa ação, seguida de rápida negociação, obtiveram a rendição, no dia 29 e 30 de abril, dos efetivos remanescentes de quatro divisões inimigas, sendo a principal delas a 148º Divisão de Infantaria.
Em sua arrancada final, a FEB ainda chegou à cidade de Turim, e, em 2 de maio de 1945, na cidade de Susa, onde fez junção com as tropas francesas na fronteira franco-italiana.