A mobilização nacional

Na época da declaração do estado de guerra, de acordo com o Castelo Branco (1960, p. 77), o “Exército dispunha, apenas, de um efetivo na ordem de 60.000 homens, distribuídos pelas inúmeras unidades espalhadas pelo território nacional. Os grupamentos mais densos encontravam-se nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul”.

Sua organização, instrução e doutrina de emprego estavam de acordo com os regulamentos franceses, introduzidos nas Escolas de Formação, Especialização, Aperfeiçoamento de Oficiais e de Estado-Maior, pela Missão Militar Francesa, que aqui esteve a partir do término da I Grande Guerra. Os armamentos e equipamentos, na sua grande maioria de procedência estrangeira, eram antiquados e em número insuficiente para atender às novas exigências.

O Exército norte-americano encontrava-se em semelhantes condições, quanto à carência de meios, a despeito da riqueza nacional. Possuía cerca de 130.000 homens no serviço ativo, repartidos por 3 DI completas, 6 outras parcialmente organizadas, 2 DC com os seus efetivos pela metade, nenhuma DE, embora houvesse unidades de carro de combate, e 1.175 aviões de combate, pertencentes à Aviação, naquele momento integrada ao Exército.

Os arsenais e as fábricas, aqui no Brasil, limitavam-se a produzir apenas alguns explosivos e munições, e a montar alguns navios pequenos para a Marinha de Guerra, determinados tipos de aviões de treinamento e de transporte, e alguns materiais para o Exército, tornando-se, assim, imperativo apelar para o parque industrial dos Estados Unidos, único país que, no momento, poderia atender às nossas necessidades.

Assim, através da Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend Lease), com a qual aquele governo procurou ajudar todos os povos que desejassem participar da cruzada contra os países do Eixo, conseguiu-se adquirir grande parte dos equipamentos e das munições correspondentes para a defesa do litoral e do tráfego marítimo.

O Exército recebeu os seguintes meios, de acordo com Castelo Branco (1960, p. 79):

“- Parte de uma Divisão Blindada e de uma Divisão Motorizada; Elementos de dois Regimentos de Artilharia Antiaérea; Quatro Batalhões Anticarros;
– Cerca de 150 peças de Artilharia de Costa, variando de 152 a 305 mm de calibre;
– Equipamentos de construção de estradas;
– 50% de uma Divisão de Infantaria”.

Não menos delicada, apresentou-se a mobilização do pessoal, não que faltasse gente, mas devido à escassez das reservas na Marinha e na Aeronáutica e à precariedade das existentes no Exército, exigindo de cada um deles soluções próprias.

No Exército, a mobilização apresentou as suas peculiaridades. Para preenchimento dos claros de oficiais, decorrentes da súbita elevação dos efetivos que, rapidamente, atingiram o total de 180.000 homens, aproximadamente, o recurso foi promover oficiais aos postos seguintes, complementando os claros abertos nos escalões inferiores com a formação de novos profissionais na Escola Militar do Realengo, mais tarde transferida para Resende, com o nome de Academia Militar das Agulhas Negras, e nos Centros e Núcleos de Formação de Oficiais da Reserva, instalados em várias cidades do país.

Fechou-se, ainda, a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, frequentada, anualmente, por numerosas turmas de oficiais das armas e serviços. A formação dos graduados passou a ser feita pelas unidades, cabendo a dos especialistas, quer oficiais, quer praças, aos Centros de Instrução Especializada, criados em todas as Regiões Militares, distinguindo-se o da 1ª RM pela amplitude dos seus recursos.
Paralelamente ao problema da mobilização, surgiu o da instrução, extremamente grave pelas novas características que apresentava, solucionado de maneira semelhante pelas três Forças.

O Exército, a Marinha e a Aeronáutica, não só enviaram aos Estados Unidos grupos de oficiais e praças com o fim de se adaptarem aos novos materiais e aos seus processos de emprego, como se beneficiaram das equipes de treinamento, que de lá vieram, compostas de veteranos da guerra, com o idêntico propósito de difundir entre eles os mesmos conhecimentos.

Na infantaria, havia ainda o problema das modificações introduzidas nos equipamentos, pois o armamento era desconhecido dos brasileiros, tais como o “fuzil Garand, o morteiro 60 mm, a bazooka 8, a metralhadora leve ponto trinta, o canhão anticarro 57 mm e o obus 105 mm” (MARECHAL MASCARENHAS DE MORAES, 1947, p. 26). Estes foram os armamentos adotados para poder haver uma Divisão do tipo “americana”, a qual foi adotada pela FEB, e que os brasileiros tiveram pouco tempo para aprender a manuseá-los e ficar em condições de empregá-los em combate.

 

Referências

CASTELO BRANCO, Manoel Thomaz. T. O Brasil na II Grande Guerra. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1960.

MASCARENHAS DE MORAES, João Baptista. A F.E.B. pelo seu Comandante. São Paulo: Instituto Progresso Editorial S.A., 1947.