Manoel Aires de Oliveira

14996 – MANOEL AIRES DE OLIVEIRA

FILIAÇÃO
João Sebastião de Oliveira e Aurora Maria Aires de Oliveira.

ANTES DA GUERRA
Nasceu no dia 18 de novembro de 1916, em Taperoá, PB. Ainda criança, mudou com a família para Bezerros, PE.
Ele e os irmãos participavam do cultivo da terra e cuidados com os animais. As condições de vida eram escassas, severas no manejo da terra devido ao clima, especialmente durante os períodos das secas intensas, circunstância em que morriam o gado, as ovelhas, cavalos etc. A sobrevivência era difícil e a tuberculose assombrava a região.
A educação era rígida, o estudo não agraciava a todos. Apenas o seu irmão, João Ayres de Oliveira conseguiu frequentar e terminar a faculdade de Direito, em Recife.
Manoel estudou apenas até a 4ª série primária, embora fosse curioso, organizado, autodidata, visionário e gostasse muito de ler.
Aos 16 anos Manoel Aires de Oliveira saiu de Bezerros, PE e foi morar em Recife, junto aos irmãos Joaquim e João. Os outros irmãos permaneceram no interior de Pernambuco, na região de Bezerros, Caruaru e Serra Negra.
Em Recife, trabalhou no comércio, foi policial e no bar de propriedade do seu irmão Joaquim, intitulado “A Portuguesa”, famoso por sua bacalhoada.
Com a mobilização de tropas para formação da Força Expedicionária Brasileira, em 25/06/1943, Manoel Aires de Oliveira foi incluído no estado efetivo do 3º Batalhão do 14º Regimento de Infantaria, em Jaboatão do Guararapes (Regimento Guararapes).
Em 31 de agosto, foi desligado, diagnosticado com “pé chato”. Inconformado, insistiu que era capaz e que podia provar. Em 3 de novembro, realizou marcha de Olinda a Engenho de Aldeia, ambas em Pernambuco, a pé, dando mostra da sua capacitação física. Em 10 de dezembro, foi aprovado no exame de seleção e matriculado no Curso de Cabo.
Em 9 Mar 1944, o capitão Emanuel Oliveira Afonso de Miranda, ao deixar o Comando da Companhia, elogiou-o nos seguintes termos: “O soldado nº 4240, Manoel Aires de Oliveira, pela ótima conduta, dedicação ao trabalho, cumprindo sempre com boa vontade e perfeição todas as ordens recebidas, tornou-se digno da estima de seu comandante de Companhia.” (Individual).
Em 26 Abr 1944, foi julgado “apto” para o serviço do Exército e classificado na categoria “E” em Inspeção de Saúde, passando a fazer parte do Contingente de Socorro. Em 29 de abril, foi transferido para o destacamento, em Olinda, PE.
Em 5 Jun 1944, foi promovido a Cabo e, no dia 20, foi mandado servir no Depósito de Pessoal da FEB, seguindo para o Rio de Janeiro, em 7 de julho.
Em 14 Jul 1944, foi incluído no estado efetivo da 2ª Companhia do 1º Batalhão do 1º RI (Regimento Sampaio), oriundo do 1º Escalão do Depósito do Pessoal da FEB.
Em 20 Set 1944, no Armazém 11 do porto do Rio de Janeiro, embarcou no navio de transporte de tropas U.S. General Mann, que desatracou, em 22 de setembro, seguindo para o teatro de operações da Europa.

DURANTE A GUERRA
Em 6 Jun 1944, às 8 horas, chegou ao porto de Nápoles, permanecendo no Navio até o dia nove, quando fez o transbordo para uma lancha americana do tipo LCI, que partiu para Livorno. No dia 12, às 16h chegou e acampou na Região de Vechie, a oeste de Pisa.
Em 13 Nov 1944, se deslocou com o 1º RI da região de Tenuta di San Rossore para as imediações de Filetole, onde acampou até o dia 21, quando se deslocou com o batalhão para Porreta.
Em 29 Nov 1944, tomou parte no ataque ao Monte Castello, como elemento à disposição da 1ª DIE.
Em 6 Dez 1944, passou à disposição do comandante do 6º RI, para ser empregado no subsetor Norte (linha Torre de Nerone – Região 681 – Áfrico – Região SE de Rocca Pitigliana), tendo permanecido nas posições avançadas até o dia 15. Na noite de 15 para 16, o batalhão foi substituído no subsetor Norte, reagrupando-se em Silla, onde acantonou.
Em 21 Dez 1944, entrou em linha no subsetor centro, compreendido pelo corte Marano – Casa Guanela.
A partir de então, participou de patrulhas de segurança e de reconhecimento que balizaram a linha ocupada pelos alemães, sofrendo bombardeios diários.
Em 15 Jan 1945, foi elogiado, individualmente pelo comandante do 1º Batalhão “pela coragem e perfeita noção do cumprimento do dever, permanecendo na função de comandante da retaguarda, assegurando a retirada da patrulha até seu último elemento e recolhendo todo o armamento deixado pelos feridos, a despeito do forte tiroteio inimigo, quando fazia parte de uma patrulha de reconhecimentos nas linhas de combate do inimigo, situados no ponto cotado 832, onde deveria tomar contato com o adversário”.
Em 16 Fev 1945, foi promovido a 3º Sargento, de acordo com as quotas de promoções atribuídas ao Regimento. Até 17 de fevereiro, participou de patrulhas de reconhecimento e segurança em terreno sob domínio adversário. Entre os dias 17 e 20, o batalhão ocupou posição ao norte de Gaggio Montano, preparando-se para o ataque ao Monte Castelo.
Em 21 Fev 1945, participou do ataque no setor oeste do Monte Castelo. Conquistado o morro, o batalhão passou a organizar o terreno e ajustar os fogos, mantendo a posição ocupada até 24 de fevereiro, quando seguiu para Porreta e Crociale.
A partir de 26 de fevereiro, ficou à disposição com o batalhão da 10ª Divisão de Montanha dos EUA, entrando em linha a oeste do Monte Belvedere até Rocca Corneta, onde substituiu o 3º Batalhão do 85º Regimento dos EUA
De 1º a 19 Mar 1945, com o RI, integrou o grupamento a oeste, sob o Comando do general Zenóbio, na construção de rede de arame e campos de minas antitanque e antipessoal.
Em 21 Mar 1945, entrou em linha com a Companhia, ocupando a região de Rocca Corneta, onde permaneceu.
Em 27 Jun 1945, consta que foi considerado Membro Honorário do IV Corpo de Exército dos EUA.
Em 5 Jul 1945, foi aprovado pelo comandante do Regimento, com o seguinte elogio individual formulado pelo 1º Tenente José Machuca, respondendo pelo Comando da 2ª Cia: “3º Sargento Manoel Aires de Oliveira, a circunstância de ter sido promovido à graduação atual, por notáveis atos de bravura, dispensa outros elogios. Entretanto, cumpro um dever de justiça acrescentando que o Sargento Aires conduziu admiravelmente o seu GC [Grupo de Combate] durante a guerra, e, após esta, se tem revelado impecável no controle dos seus soldados. Possui um acentuado espírito de lealdade e disciplina.”
Em 6 Jul 1945, foi aprovado o seguinte elogio individual, formulado pelo 1º Ten. José Machuca: “O 3º Sargento 4514, Manoel Aires de Oliveira, Cmt de GC [Comandante de Grupo de Combate] pela maneira brilhante e eficiente com que impulsionou seu GC na ofensiva final, sempre demonstrou coragem e sangue frio cumprindo a risca todas as missões recebidas em cujo desempenho se revelou sobejamente capaz de comandar um GC na guerra. Cumpre-me ainda registrar que após atingido o Monte Righette, objetivo do Pel. [Pelotão], o Comandante do mesmo resolveu ir até o ponto cota 865 e casa de Naudi, tendo este sargento se apresentado voluntariamente para avançar… [ilegível] patrulha constituída pelo oficial e sargentos do Pel. a qual recebeu tiros de metralhadoras inimigas quando ultrapassava a Casa de Naudi, tendo o inimigo se retirado após os disparos”.
Em 11 Ago 1945, foi público, ter partido com o Regimento, a bordo do transporte americano Mariposa, do Porto de Nápoles (Itália), tendo chegado ao porto do Rio de Janeiro no dia 22 do mesmo mês.
Em 13 Set 1945, foi público que, de acordo com as instruções aprovadas pela Portaria nº 8.458, de 7 de junho do corrente ano, foi licenciado do serviço do Exército e em consequência excluído do estado efetivo Regimento Sampaio; ficando considerado reservista de 1ª categoria. Declarou ir residir em Recife-PE. Recebeu o Certificado Especial nº 8070.

APÓS A GUERRA
Como muitos, foi abandonado a própria sorte pelo Governo, sem nenhuma assistência médica para tratamento dos traumas. Desamparado e sem trabalho retornou a Recife, PE.
Frequentemente ia a Campina Grande, onde sua irmã Elvira residia, lá começou a trabalhar no comércio do seu primo José Aires, esposo de sua irmã. Nesta cidade enamorou-se de Hilda Veras de Lima, com quem casou. Da união nasceram seis filhos mas uma das gêmea faleceu aos seis meses.
Na década de 1950 mudou-se com a família para Pilões, PB, onde trabalhou num engenho de açúcar; posteriormente, foi administrar a Usina Santa Maria, em Areia, PB. Trabalhou também na Prefeitura de Serraria, PB e na Prefeitura de Pilões, onde foi eleito vereador.
O desembargador Braz Baracuhy admirava-o pelo seu desempenho como herói na 2ª Guerra Mundial e batalhou para ele ser coletor de imposto do Estado da Paraíba. Por ser honesto, de palavra, sério e de opinião forte fez adversários políticos. Por perseguição política, foi transferido para Malta-PB, a cerca de 190 km de onde residia. O trajeto era penoso, perigoso nas estradas e serras escorregadias. Ficava muito tempo sem contato com a família. Essas dificuldades contribuíram para o estresse e o acirramento dos traumas pós-guerra. Em consequência adoeceu e, ao retornar para casa uma de suas filhas não o reconheceu.
Revoltado com tanta injustiça pensou que a perseguição era do próprio governador. Irritado com as intrigas, ameaçou que se o mesmo passasse em sua calçada, o mataria. Entretando o amigo e conselheiro Osias Baracuhy, conseguiu acalmá-lo com muita conversa. Tempos depois, descobriu-se que os assessores do governador haviam interferido na sua transferência para Malta. Décadas depois, tornou-se amigo do governador, com quem conversava bastante em seu escritório de advocacia na capital paraibana.
Em 1959, foi transferido para a Recebedoria de Rendas em Campina Grande, como Fiscal de Rendas, chegando à chefia de um departamento; contudo, a sua extrema honestidade desagradava a muitos.
Com o passar dos anos adoeceu. Precisou de tratamento e foi para João Pessoa. Quando retornou ao trabalho, colocaram-no no setor de documentação, setor empoeirado com papeis velhos e mofados. Adoeceu novamente; além do stress, teve uma reação alérgica que causou erupções em suas mãos.
Orgulhoso e honesto, sempre viveu do seu salário. Com suas economias e empréstimos comprou um terreno no bairro do Alto Branco, em Campina Grande, onde começou a construir a casa. Participava da construção nos fins de semana de acordo com o que o seu salário permitia. Em dado momento, com a obra bastante adiantada, recorreu a um empréstimo da Caixa Econômica Federal para terminar os detalhes da casa. Em dois anos a dívida praticamente dobrou, apesar de pagar o empréstimo em dia. Extremamente abalado, entrou em desespero e tomou decisões drásticas, atentando contra a própria vida. Tratou-se por anos em Recife na casa do seu irmão Joaquim; anos antes havia vencido o alcoolismo. Preocupado com a dívida, fez uma carta entregando a casa à CEF, sem nenhuma contrapartida pelo que já havia gasto de seu bolso na construção da casa. Foi morar na casa de propriedade do seu genro.
Adoentado e precisando se aposentar, foi ao Rio de Janeiro para tratamento no Hospital Central do Exército (HCE), pelo stress da vida e das sequelas da 2ª Guerra Mundial. Em um dos fins de semana no Rio, cismou que queria andar de trem com o sobrinho Romero que tentou dissuadi-lo, sem resultado. Quando o trem começou a se movimentar, velhas lembranças atormentaram-no e entrou em transe pós-traumático e em posição de alerta como se estivesse com arma em punho, pronto para o confronto.
Após o tratamento no HCE, retornou a Campina Grande. Solicitou as duas aposentadorias a que, constitucionalmente, tinha direito: uma como fiscal de rendas e a outra como ex-combatente da FEB. Contudo, precisou escolher, tendo seu direito negado. Optou pela que, na época, oferecia o melhor salário, ou seja, Fiscal de Rendas, pois precisava sustentar a família. Foi penalizado na aposentaria por ter apenas 25 anos de trabalho e entrou com ação judicial para garantir o direito ao salário. Só ganhou a causa pouco antes de morrer. Mais uma vez, o Governo falhara com o cidadão Manoel Aires de Oliveira.
Já aposentado, mudou-se para João Pessoa. Deitava em sua rede pensando na vida, nos traumas, fumava muito, lia bastante jornais e livros e tomava muito café. Gostava de conversar, contar histórias e piadas banais; dormia pouco e sempre sob efeito de medicamentos tarja preta. Já não bebia há décadas. Era organizado e se preocupava com a família; era capaz de dar a roupa do corpo para quem precisasse. Era amoroso, cuidadoso, brincalhão, mas também bastante sério. Apreciava os netos, que animava com brincadeiras antigas para provocar risadas. Deixou um seguro para a esposa e as despesas com o próprio enterro pagas.
O seu maior orgulho era dizer que todos os filhos haviam terminado a Universidade e que só faltava a caçula [autora deste relato] – a única que ele não conseguiu ver com um diploma. Admirava, sobremaneira, o Exército, apesar dos pesares.
Faleceu aos 66 anos, em João Pessoa, no dia 25 de março de 1983, na sua rede, em decorrência de um acidente vascular cerebral hemorrágico e hipertensão arterial.
Manoel Aires de Oliveira lutou bravamente em prol da verdadeira democracia, liberdade, dignidade e contra a tirania, fascismo e nazismo. Um verdadeiro herói.

Observação: No livro “Sangue, amor e neve”, o tenente da FEB Waldir Magalhães Pires relata histórias vividas durante a Segunda Guerra Mundial, dentre as quais constam diversos atos de bravura do cabo Manoel Aires de Oliveira.

Atualizado em 27 Nov 2025.

MEDALHAS E CONDECORAÇÕES

  • Medalha Cruz de Combate de 2ª Classe
  • Medalha de Campanha
  • Medalha de Guerra
  • Membro Honorário do IV Corpo de Exército (EUA)

FONTES
Histórico do Pessoal Militar (Folhas de Alterações) e texto enviado por Carmem Lúcia de Oliveira Lima, autora do livro “Fragmentos de uma vida”, contendo a história do pai e da família.
Observação: texto ajustado pela equipe do MVFEB.

CRÉDITOS
Museu Virtual da FEB