Oswaldo Cordeiro de Farias
6936 – OSWALDO CORDEIRO DE FARIAS
FILIAÇÃO
Filho de Joaquim Barbosa Cordeiro de Farias e Corina Padilha Cordeiro de Farias.
ANTES DA GUERRA
Nasceu em Jaguarão, RS, em 16 Ago 1901.
A partir de 1912, foi aluno do Colégio Militar do Rio de janeiro e, em 1917 ingressou na Escola Militar do Realengo, sendo declarado aspirante-a-oficial de artilharia em 1919.
Foi promovido a 2º tenente em abril de 1920 e a 1º tenente em maio de 1921.
Em 1922 tomou parte no levante da Escola Militar de Aviação. Passou cerca de seis meses preso na Fortaleza de São João, no Rio de Janeiro. No mesmo ano, foi transferido sucessivamente para Santa Maria, Rio Pardo e São Gabriel, no RS.
Em outubro de 1924, marchou para o Paraná ao encontro das forças paulistas. Tornou-se comandante de um dos destacamentos da Coluna Prestes, formada em abril de 1925.
Após participar de toda a marcha, exilou-se na Bolívia em 1927. De volta ao Brasil, em 1928 foi preso, permanecendo na Fortaleza de Santa Cruz. Foi julgado e absolvido na primeira instância e no STM.
Conspirou ativamente para a preparação da Revolução de 1930. Com a vitória da Revolução, foi promovido a capitão em novembro de 1930 (contagem retroativa a julho de 1925).
Promovido a major em maio de 1931, ocupou a chefia de polícia (Secretaria de Segurança) de São Paulo entre outubro de 1931 e junho de 1932.
Em 1933, foi matriculado na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais; promovido a tenente-coronel em julho desse ano, participou da repressão à Intentona Comunista, em novembro de 1935.
Em dezembro de 1937, foi promovido ao posto de coronel.
Em março de 1938, foi nomeado interventor federal no Rio Grande do Sul (RS).
Em janeiro de 1942, foi promovido a general de brigada, aos 40 anos, tendo sido o mais jovem oficial promovido ao generalato no período republicano.
Até setembro de 1943, desempenhou a função de interventor federal no RS; afastou-se dessa função a pedido, sendo voluntário para integrar a Força Expedicionária Brasileira.
Em 7 Jan 1944, foi nomeado comandante da Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (A.D.1/E) pelo presidente da República.
Em 22 Jul 1944, assumiu o comando da 1ª DIE (efetivo que ainda estava no Brasil).
Em 21 Set 1944, assumiu o comando do “Grupamento General Cordeiro de Farias”, cujo embarque deu-se entre 18 e 21 de setembro; o navio Gen. Mann desatracou no dia 22 Set 1944.
DURANTE A GUERRA
Comandou a Artilharia Divisionária da 1ª DIE. Tinha sob seu comando 2.026 homens.
Atravessou a linha do Equador no dia 27 de setembro e entrou no mar Mediterrâneo no dia 3 de outubro. No dia 6, às 09 horas, chegou a Nápoles, na Itália. Permaneceu a bordo até o dia 9, quando fez o transbordo para uma Landing Craft Infantry (embarcação de desembarque de infantaria), prosseguindo a viagem até Livorno. Desembarcou em 11 Out 1944, indo para o acampamento em Tenuta di San Rossore, próximo a Pisa.
Em 2 Nov 1944, recebeu, do coronel Emílio Rodrigues Ribas Junior, o comando da A.D.1/E. Nessa data, deixou o comando do “Grupamento General Cordeiro de Farias”, por extinção do mesmo.
Em 10 Nov 1944, deslocou o posto de comando avançado da A.D.1/E para Pieve di Casio. Deslocamentos do posto de comando da A.D.1/E: em 5 Jan 1945, para Porreta Terme; em 13 Mar, para Gaggio Montano; em 22 Abr, para Zocca (Borghi); em 24 Abr, para Vignola; em 26 Abr, para Montecchio; em 2 Maio, para Piacenza; em 9 Maio, para Campospinoso Albaredo; e em 22 Jun, para a a área de estacionamento de Francolise.
As seguintes referências elogiosas expressam parte da sua atuação no comando da Artilharia Divisionária:
Em 16 Jan 1945, foi publicado o seguinte louvor:
“General CORDEIRO DE FARIAS – Chefe jovem, leal, ativo e de atuação inteligente e penetrante em relação à sua tropa, com tato e diligência, tem sido um exemplo de cooperação. No estabelecimento da posição defensiva da Divisão e no combate tem demonstrado, como comandante da Artilharia Divisionária, além de serenidade e firmeza, apreciável espírito de organização e de objetiva execução. A coesão da Divisão assenta também no seu inestimável concurso à ligação Infantaria-Artilharia”.
Em 1º Abr 1945, o comandante de 1ª DIE assim se expressou:
“É a segunda vez, no curto espaço de quinze dias, que o Gen. Cmt. do IV Corpo distingue nossa Divisão com um juízo tão positivo sobre a sua participação nas operações. É por isso mesmo, com satisfação, que dou conhecimento a todos os componentes da F.E.B., das expressões contidas no documento enviado por aquele Chefe, aproveitando o ensejo para transmitir à 1ª D.I.E a expressão dos meus agradecimentos e as mais calorosas felicitações aos quadros, à tropa e aos Serviços em geral, pela fidelidade com que se desincumbiram das pesadas tarefas que lhes tocaram, agindo com energia, coragem invulgar o perfeito ascendente sobre o poderoso inimigo com que se defrontaram. É justo, entretanto, salientar os esforços daqueles que particularmente o mereceram, entre os mais graduados e mais ligados ao Comandante da Divisão. Ao General 0SWALDO CORDEIRO DE FARIAS, Cmt. da A.D. da 1ª D.I.E., felicito pela magnífica atuação das Unidades sob seu comando, no apoio e proteção dada às tropas atacantes de Castelnuovo (Itália). A extensão da frente e a diversidade de missões com que teve de arcar, não criaram impossibilidades aos seus canhões. Ao contrário: sempre dentro da ideia do obter o efeito de massa pela concentração de tiros, realizou com a A.D. o esforço maciço em proveito do ataque, assegurando, entretanto, o necessário apoio à frente defensiva do Grupamento Oeste, tudo com a mais alta eficiência. Os diversos lanços do ataque foram sempre precedidos de fogos potentes e bem ajustados que desarticulavam constantamente as defesas inimigas. Ao de avizinhar o escalão de ataque de Castelnuovo – seu objetivo final –, mais uma vez os tiros da Artilharia se ajustaram, com precisão matemática, sobre o baluarte inimigo, produzindo-lhe impressionante destruição, seguida da última arrancada da nossa Infantaria para a posse de terreno. Desta vez, ainda coube à Artilharia, sob seu valoroso Comando, segura e competente orientação, um papel proeminente, particularmente nas operações contra Castelnuovo, conjugando eficientemente seus fogos com os movimentos da Infantaria, no tempo a no espaço. Ao seu Comandante, General Oswaldo Cordeiro do Farias, louvo, pois, com satisfação, pela decisiva atuação da Artilharia Divisionária nas ações dos dias 3, 4 e 5 de março e pelas provas de seu valor pessoal, reveladas na habilidade de comando, espírito de sacrifício no cumprimento das missões de guerra, iniciativa, destemor diante das situações difíceis e descortínio técnico, que constituem um belo exemplo a imitar”. (Elogio Individual em Campanha).
Em 26 Maio 1945, foi publicado o seguinte elogio, consignado pelo comandante da 1ª DIE:
“O General OSWALDO CORDEIRO DE FARIAS, Comandante de Artilharia Divisionária, foi um fator precioso da vitória que alcançamos ao cabo desse longo período de oito meses de campanha. Inteligência de escol, calmo e perseverante, extremamente confiante na eficiência e na coesão das forças, sob o seu comando direto, sua colaboração foi sempre levada à conta de um argumento decisivo para o êxito de todas as operações levadas a termo neste Teatro de Operações. Ao se iniciarem as operações no Vale do rio Reno, em 1º de novembro de 1944, com a progressiva concentração de toda a 1ª D.I.E. naquela difícil zona de ação, já nos primórdios de um inverno que ameaçava ser terrível e inesquecível, o esforço da A.D. para avançar todos os seus meios para intervir na luta, fazendo-os vir, de longínqua área de treinamento, ainda incompletamente equipados, somente guiados pelo elevado sentimento de solidariedade com os irmãos d’armas. A 29 de Novembro de 1944, toda a A.D., sob o Comando direto do General Cordeiro, no primeiro combate de Monte Castelo, teve uma atuação verdadeiramente excepcional, assim reconhecida até pelo inimigo (depoimento de prisioneiro). Em todo o período defensivo do inverno, seus fogos intimamente ajustados aos escalões mais avançados de nossa infantaria, chegavam impiedosamente sobre o inimigo, à menor solicitação dos infantes, que se acostumaram àquele valioso concurso em todas as circunstâncias, de dia ou de noite. Retomadas as operações ofensivas sobre Monte Belvedere -Monte Castelo em 19 de fevereiro, coube ainda à nossa A.D. um papel proeminente, sob o Comando direto do Gen. CORDEIRO. No seguimento da nossa ofensiva, a conquista de Castelnuovo foi ainda mais êxito marcante, sob a proficiente ação do Gen. CORDEIRO. A Ofensiva da Primavera, que nos conduziu à vitória final, veio pôr à prova esse excepcional espírito de colaboração que nitidamente o caracteriza. Após a conquista de Montese e Zocca, o inimigo passou a fugir velozmente. Nossos canhões tiveram de silenciar. Não o podiam mais alcançar. E toda a A.D. pela voz de seu Chefe, se transformou imediatamente num órgão valioso de transporte, para que a infantaria retomasse o contato com o inimigo. E isso foi feito em profundidade superior a 500 Kms, com um esforço que ultrapassou quase as possibilidades humanas dos executantes. Esse serviço excepcional nos proporcionou vantagens inestimáveis que exploramos até a vitória final. A noção do cumprimento do dever e de espírito de desprendimento demonstrado por todos os elementos da A.D., integrando-se de corpo e alma a essa missão, vendo somente o sucesso e a rapidez da nossa perseguição ao inimigo – perseguição essa que permitiu a rendição incondicional da 148ª Divisão Alemã e resto da Divisão Bersaglieri “Itália” e da 90ª. Divisão Panzer Grenadier – revelaram que a mentalidade criada pelo seu Chefe, o General CORDEIRO, constituiu-se no fator principal dos êxitos obtidos pelos nossos canhões nessa guerra, onde o valor e a fama do artilheiro do Brasil ficou definitivamente firmada. Ao encerrar-se essa campanha com tanta felicidade, quero expressar os seus agradecimentos e louvores ao General CORDEIRO DE FARIAS, pela valiosa e inesquecível cooperação que me prestou, augurando-lhe os maiores êxitos na sua carreira militar”. (Elogio individual em campanha).
Em 11 Out 1945, embarcou no navio de transporte americano Mariposa, em Nápoles, chegando ao Rio de Janeiro em 22 de outubro.
APÓS A GUERRA
De volta ao Brasil, participou do movimento que culminou na deposição de Getúlio Vargas, em outubro de 1945. Em 31 de dezembro desse ano, com a sua extinção da A.D.1/E, deixou o comando da mesma.
Foi designado auxiliar do adido do Exército junto à embaixada brasileira em Buenos Aires, função que exerceu entre 18 de fevereiro e 30 de junho de 1946.
Foi promovido a general de divisão em agosto de 1946.Em abril de 1947 assumiu o comando da 5ª Região Militar e da 5ª Divisão de Exército, em Curitiba, PR, lá permanecendo até janeiro de 1949, quando recebeu a missão de organizar e fundar a Escola Superior de Guerra, que comandou de setembro de 1949 a dezembro de 1952.
Promovido a general de exército, comandou a Zona Militar Norte (atual Comando Militar do Nordeste), com sede em Recife, PE, de dezembro de 1952 a junho de 1954.
Em 1954, foi apresentado como candidato de consenso ao governo do Estado de Pernambuco, que governou entre 1955 e 1958. Renunciou ao mandato um mês antes de sua conclusão para assumir a presidência da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, que exerceu por dois anos.
Em 25 Nov 1960, por ato oficial do presidente da República, foi designado para presidir as solenidades da transladação dos despojos dos ex-combatentes da FEB do Cemitério Militar de Pistoia para o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Rio de Janeiro, missão concluída em 15 Dez 1960.
Entre fevereiro e setembro de 1961, foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.
Participou ativamente do movimento militar que, em 1964, depôs o presidente João Goulart.
Por decreto presidencial de 16 Ago 1965, após 52 anos 8 meses e 16 dias de efetivo serviço, foi transferido para a reserva remunerada e promovido ao posto de marechal.
No Governo Castello Branco, assumiu o Ministério Extraordinário para a Coordenação dos Organismos Regionais, depois transformado em Ministério do Interior. Desempenhou esta função até junho de 1966, quando se retirou da vida pública.
Alguns anos antes de falecer, contou sua versão dos fatos dos quais participou para a cientista política Aspásia Camargo, da Fundação Getúlio Vargas, o que resultou no livro “Diálogo com Cordeiro de Farias: Meio Século de Combate”. A obra foi lançada pela editora Nova Fronteira em 1981 e reeditada pela Bibliex em 2001.
Faleceu no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1981.
Em junho de 1981, pela Portaria Ministerial nº 638, o Exército Brasileiro atribuiu à Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Exército a denominação histórica “Artilharia Divisionária Cordeiro de Farias”, em sua homenagem.
MEDALHAS E CONDECORAÇÕES
- Cruz de Guerra com Palma (França)
- Diploma de Membro Honorário do IV Corpo de Exército (EUA)
- Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis (Portugal)
- Grande Oficial da Ordem da Coroa da Itália (Itália)
- Grande Oficial da Ordem do Mérito Aeronáutico
- Grande Oficial da Ordem do Mérito Militar
- Grande Oficial da Ordem do Mérito Naval
- Legião do Mérito (Estados Unidos)
- Medalha Comemorativa do Nascimento do Barão de Rio Branco
- Medalha Cruz de Combate de 1ª Classe
- Medalha de Campanha
- Medalha de Guerra
- Medalha Marechal Mascarenhas de Moraes (ANVFEB)
- Ordem de Rio Branco
- Ordem Nacional da Legião de Honra (França)
FONTES
“Diálogo com Cordeiro de Farias: meio século de combate”, de Aspásia Camargo e Walder de Góes – Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2001;
Histórico do Pessoal Militar (Folhas de Alterações);
https://www.eb.mil.br/web/campanhas/feb/herois/marechal-cordeiro-de-farias (acessado em 25 Fev 25); e
https://cmne.eb.mil.br/images/Biografia_Antigos_Comandantes_CMNE_2024-3.pdf, p. 12 e 13 (acessado em 5 Mar 25).
CRÉDITOS
Museu Virtual da FEB / Fröhlich, S.F.