Vidas perdidas

Foto: André Cabral

“ESTA TERRA SAGRADA FOI SEPULTURA DOS SOLDADOS
BRASILEIROS MORTOS NO CAMPO DA HONRA PELA
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. MCMXLV”

 

“SEUS NOMES ESTÃO GRAVADOS NESTA PEDRA PARA
ETERNA MEMÓRIA DOS HOMENS. MCMLXVI”

 

MONUMENTO VOTIVO MILITAR BRASILEIRO (MVMB)
PISTOIA, ITÁLIA

Foto: Fernando Dallacqua

“EU OS LEVEI PARA O SACRIFÍCIO, CABIA-ME TRAZÊ-LOS DE VOLTA”
Marechal João Baptista Mascarenhas de Morais

 

Monumento Nacional aos Mortos da II Guerra Mundial, RJ – Brasil

PISTÓIA, CEMITÉRIO MILITAR BRASILEIRO

Cecília Meireles (1901-1964)

Eles vieram felizes, como
para grandes jogos atléticos:
com um largo sorriso no rosto,
com forte esperança no peito,
– porque eram jovens e eram belos.

Marte, porém, soprava fogo
por estes campos e estes ares.
E agora estão na calma terra,
sob estas cruzes e estas flores,
cercados por montanhas suaves.

São como um grupo de meninos
num dormitório sossegado,
com lençóis de nuvens imensas,
e um longo sono sem suspiros,
de profundíssimo cansaço.

Suas armas foram partidas
ao mesmo tempo que seu corpo.
E, se acaso sua alma existe,
com melancolia recorda
o entusiasmo de cada morto.

Este cemitério tão puro
é um dormitório de meninos:
e as mães de muito longe chamam,
entre as mil cortinas do tempo,
cheias de lágrimas, seus filhos.

Chamam por seus nomes, escritos
nas placas destas cruzes brancas.
Mas, com seus ouvidos quebrados,
com seus lábios gastos de morte,
que hão de responder estas crianças?

E as mães esperam que ainda acordem,
como foram, fortes e belos,
depois deste rude exercício,
desta metralha e deste sangue,
destes falsos jogos atléticos.

Entretanto, céu, terra, flores,
é tudo horizontal silêncio.
O que foi chaga, é seiva e aroma,
– do que foi sonho, não se sabe –
e a dor anda longe, no vento…

Flor de Poemas (1983) pág 263/ 264

VIDAS PERDIDAS DURANTE A GUERRA